
AMANDA MARTINS ORTEGA
O Dom da Maternidade
Edições Reformai
Capa:
Elnatan Rodrigues
Autor:
Amanda Martins Ortega
Edição:
Elnatan Rodrigues
Revisão:
Elnatan Rodrigues
2ª Edição Abril 2018
Edições Reformai, 2018©️ Todos os direitos autorais estão reservados. Citações Escriturísticas a partir da ACA (Almeida Corrigida Atualizada),Sociedade Bíblica do Brasil, 2018. É permitido, pelo autor e editores desta obra, breves citações em outros materiais, dos textos presentes neste material com devidas fontes.
Família é, depois da própria cruz de Cristo, a mais genuína linguagem existente. Isso porque ela é a forma mais visível e prática por meio da qual Deus trabalha com a humanidade e Se revela a ela.
Uma criação revela traços do seu criador. Por exemplo, se pegarmos uma obra de arte, tal irá nos trazer certas revelações particulares sobre o seu autor: Seu gosto, alguns quesitos da sua personalidade, o que passa por sua mente, etc. Assim também acontece com as criações de Deus e as Suas instituições, elas revelam traços de quem Ele é, os Seus atributos, a Sua Natureza[1]. A cruz revela tais atributos de forma suprema, sendo a sua mensagem a exposição da sabedoria de Deus[2]. Inclusive, a melhor forma de trabalhar essa cruz é com a família!
A Bíblia vez após outra afirma que a criação revela não só a existência do Criador, mas a Santidade dEle, de forma a nos levar a adorá-Lo[3]. Com as instituições divinas não é diferente e dentre as três (a Família, a Igreja e o Estado), a família é a primeira e maior delas. Isso nos mostra o quão importante é esta instituição e, principalmente, este ministério. Família é ministério e deve ser vista e tratada como tal. É interessante observar que, mesmo a igreja sendo outra instituição de Deus, ela também é chamada de família e contém todos os atributos de uma. A família é a primeira igreja existente, e a igreja é uma família – a família de Deus. Em outras palavras, estamos o tempo todo falando em uma só linguagem e esta linguagem precisa ser conhecida!
A família é tratada por Deus como algo de extremo valor e sacralidade, a ponto de na Sua Palavra dizer que aquele que não cuida dos da sua própria casa (marido/esposa e filhos) não pode sequer ser exemplo na igreja e é considerado pior do que um infiel, é alguém que nega a fé[4]. Isso porque não existe igreja sem família, esta é a estrutura da igreja e a forma mais intensa de revelar e viver a Escritura. É contraditório uma pessoa pregar Cristo e não ser regido pelo espírito da cruz.
A essência cristã está na família constituída por Deus quando nela a cruz é trabalhada diariamente, negando a nós mesmos através de Cristo, que em nós habita. O cristianismo se inicia dentro do lar, no menor, mais íntimo e no mais genuíno.
Afinal, que proveito há em um homem que passa por cima de sua própria carne (sua esposa), para tratar ou se relacionar com um terceiro? Existe alguém mais importante no mundo para um homem do que sua própria esposa, e vice-versa? Ou que proveito há em pais que passam por cima da própria prole? Não há como amar um de fora se não se sabe amar o da própria casa. Não se pode ministrar um de fora sem antes ter ministrado o de dentro, pois é vão dar comida para um estranho querendo trazê-lo para dentro enquanto o próprio filho morre de fome. É hipocrisia, é como um saco sem fundo, um trabalho vão e torpe, enquanto se está zelando por algo secundário, está se negligenciando o primordial.
Assim, a família é o primeiro e maior ministério existente, o primeiro chamado, a primeira necessidade, a essência, sendo o matrimônio o pilar principal e, depois, a maternidade/paternidade. Nada em todo o mundo pode ser tão importante quanto esse assunto!
Quando o matrimônio está bem estruturado a prioridade se torna os filhos, e quando a família está estruturada, então, se começa a pensar na família da fé. E quando a Igreja está saudável, se começa a pensar nos de fora.
A família é a estrutura de toda a sociedade e de nossa vida pessoal, ainda assim seu valor transcende a razão humana. Mas, afinal, como Deus se revela à humanidade através da família? E como pode o Seu trabalho ser por meio dela?
A FORMA DE DEUS SE REVELAR
Você já percebeu que os nomes atribuídos a Deus são nomes familiares? A Bíblia coloca Deus como sendo Pai de filhos adotados por meio de Cristo[5]. Também O coloca como Marido/ Noivo, chamando a igreja pelo nome de noiva[6]. Ela também apresenta a igreja como sendo formada por Cristo e seus irmãos, coerdeiros com Ele. Ora, se em Cristo somos feitos filhos de Deus, todos os filhos são feitos entre si irmãos[7]. O tempo todo, através das Suas próprias características e feitos, Deus fala de família.
Ainda em Efésios 5 a Bíblia deixa bastante evidente a forma como Deus se revela através da família e, em destaque, do matrimônio, sendo ele nada menos do que a imagem do relacionamento entre Cristo e a sua amada noiva – a igreja. Através do matrimônio, por exemplo, Deus revela a unidade da trindade, isto é, assim como na trindade vemos três pessoas sendo uma só, no matrimônio vemos duas pessoas se tornando uma só carne que, por ser única, não pode ser dividida[8]. Com a igreja nós vemos a mesma unidade: Vários membros, isto é, pessoas, formando um só corpo – o corpo de Cristo[9].
Isso porque Deus é comunitário (como um) e ama relacionamentos intimamente ricos, o evangelho prega esse relacionamento de unidade, o qual por meio de Cristo temos com Deus.
É por meio de Cristo que temos o nosso relacionamento reconciliado com o Pai e vivemos tal realidade em profunda intimidade e conhecimento dEle, como acontece em uma família saudável, um matrimônio santo. De igual modo, o amor de Deus por Seus filhos é revelado na forma como constituiu a família: O homem é o cabeça da mulher, responsável por amá-la de forma sacrificial (como Cristo amou a igreja) e a mulher é a auxiliadora do homem que, como a igreja, se submete em correspondência ao seu amor e em auxílio na obra por ele proposta[10].
A família é uma instituição de caráter sacro que traz consigo um bocado de revelações sobre o Ser de Deus nos seus mais íntimos detalhes. Não existe forma mais rica de evangelismo do que a família!
O matrimônio é o primeiro, principal e permanente pilar da família, a estrutura que leva consigo o poder de influenciar todos os outros relacionamentos nela contidos, não encontro a Bíblia citando algo tão sagrado como o matrimônio[11]. Entretanto, ele não é o único relacionamento que nela nós encontramos (cuidaremos dele em outro material desta mesma série). Na família nós também encontramos o relacionamento entre irmãos e entre pais e filhos, o qual também nos revela muito sobre o caráter de Deus. E é sobre isso que iremos tratar com mais detalhes neste material: O relacionamento maternal e paternal, como Deus se revela por meio destes e como Deus trabalha por meio deles.
A FORMA DE DEUS TRABALHAR COM A HUMANIDADE
O evangelho tem uma palavra chave: Relacionamento. Afinal, se trata de uma reconciliação real entre o homem e Deus através de Cristo[12]. E este relacionamento só é possível por conta de uma outra palavrinha chave: Graça. Toda vez que o ser humano se relaciona, é só por intermédio da graça, que significa “favor imerecido”. Isso porque somos imperfeitos e não podemos viver por dignidade própria ou mérito, simplesmente porque não os possuímos. Assim sou eu e assim é você, alguém que fere e é ferido todos os dias por conta de nossas e alheias imperfeições. Diariamente precisamos de perdão e perdoar, isso só é possível por meio da graça, até porque quem fere não merece perdão. Isso quer dizer que relacionamentos verdadeiros e duradouros não dependem de perfeição ou de acertos, mas de amor, de graça, de tolerância, da cruz. Está aí o centro do evangelho: A cruz!
Não existe melhor forma de Deus trabalhar conosco a sua cruz do que em relacionamentos, por isso, é nítido na Bíblia o apreço divino por comunidade, aliás, no Deus trino vemos a perfeita unidade em família. Olhando para Cristo, testemunhamos a expressão exata do amor, que é o vínculo para estabelecer relacionamentos. Em nossa realidade humana, quanto mais íntimo o relacionamento, mais conhecemos as imperfeições (nossas e dos outros) e a importância da graça, isto é, quanto mais nos relacionamos mais nos deparamos com a nossa capacidade de errar e fazer justamente as coisas que achávamos incapazes de fazer. É por meio de relacionamentos que nos deparamos com a nossa realidade e reconhecemos nossa real condição.
Por isso, necessitamos ser acolhidos, aceitos, perdoados, tratados não pelo que fazemos, mas apesar do que façamos. De igual modo, somos diariamente desafiados a lidar com os erros alheios e, mais do que liberar perdão, sermos um instrumento nas mãos de Deus a fim de interceder e ajudar nosso próximo nas suas fraquezas.
Quanto mais conhecemos pessoas e nos envolvemos, mais somos trabalhados por Deus e não existem pessoas mais íntimas do que um marido, uma esposa, um filho ou um irmão. A família é a melhor forma de Deus se revelar e trabalhar em nós os seus propósitos, um por meio do outro e todos por Ele.
O importante a se dizer é que o matrimônio, como também a maternidade/ paternidade, são criações divinas que só dizem respeito a Deus, isto é, somente por Ele podem ser mantidas. Isso significa que matrimônio e a família são milagres. É interessante observarmos que o matrimônio fala sobre duas pessoas que só sabem errar e, para piorar, são pessoas distintas, de personalidades fortes e, às vezes, opostas, de criações e famílias diferentes e, em vez ou outra, de classes e culturas variadas. São sexos, opiniões, gostos e fraquezas diferentes.
Quando se fala de filhos e pais estamos, de igual modo, falando de pessoas imperfeitas e diferentes entre si. Isso significa que a família tem absolutamente tudo para dar errado quando a avaliamos do ponto de vista humano (conforme as nossas capacidades) e, por isso mesmo, ela anuncia um Deus de milagre da mesma forma que dEle necessita para simplesmente ser.
A família, portanto, também é um trabalhar de Deus ao nos convocar a um relacionamento com Ele de dependência, onde dEle precisamos para poder vivenciar sua instituição. Apenas pelo trabalhar de Deus em nós podemos perceber que momentos de fraquezas são momentos propícios para manifestação de virtude do alto. Se tentarmos manter a família através das nossas capacidades, veremos um penoso trabalho em vão: Ou tentaremos moldar os outros conforme o nosso agrado (e tornar um lugar onde deveria haver liberdade e segurança em um lugar de cativeiro e desgaste), ou saíremos totalmente frustrados.
Nenhum homem pode manter na força do seu braço, na sua coragem ou no seu esforço, a família. Esta diz respeito a unidade que não pode ser gerada pelo suor humano, apenas pela dispensação da graça que vem do alto. Logo, a família requer, indispensavelmente, um relacionamento ativo com Deus – de quem provém a graça e a sabedoria.
Quando se fala nessa linguagem, nunca se visa o sucesso – do matrimônio ou da maternidade – mas sim o relacionamento em si. Há quem lute mais pelo matrimônio do que pelo próprio cônjuge, e isso soa em sentido oposto ao que o matrimônio anuncia em essência. Há quem vise a estrutura por si mesma e faz com que tudo perca o sentido, isto é, ao invés de um ambiente de unidade onde um visa o outro antes de si mesmo, torna-se um ambiente de cobrança e afazeres rumo a um ideal, onde se gasta e desgasta, torce e distorce para conseguir o objetivo: Ficar ali dentro da mesma casa, porque separar seria “feio demais”. O matrimônio deixa de ser, ainda que com duas pessoas morando dentro do mesmo ambiente. Quem visa o matrimônio e não o cônjuge acaba pregando o próprio ego e dele ficando cativo, levando também sua família ao cativeiro.
Essa realidade é a mesma quando se fala em paternidade e maternidade. Nessa busca, há quem procure uma fórmula para o sucesso, talvez uma lista de tarefas ou de regras sobre o que fazer ou não fazer, mas, assim como no evangelho, não se trata de um padrão, mas de um genuíno relacionamento. Este prega o oposto de uma lista de regras ou de padrões idealizados. Relacionamentos são vividos dia a dia e carecem de graça. Neles, quando se perde é que se ganha, especialmente quando se fala em família.
Certa feita, ouvi alguém dizer: “Fico chocado com a forma como algumas pessoas agem dentro do matrimônio ou até dentro de um namoro sério. Elas casam e ‘descasam’ conforme são agradadas, mudam o seu status nas redes sociais conforme estão ou não satisfeitas com o que o outro ofereceu a elas. Mas eu nunca vi um filho se tornar órfão só porque brigou com a mãe e/ou com o pai”. Eu também nunca vi uma paternidade ser desfeita, muito menos porque o filho não é digno do que o pai faz por ele. Um relacionamento sem cruz (o fundamento do amor: A negação do “eu”) não pode ser mantido. A cruz é a base de todo e qualquer relacionamento (tanto o nosso para com Deus quanto os nossos relacionamentos uns para com os outros) e a maternidade/paternidade é uma “amostra grátis” dessa realidade, um amor genuíno natural que nos revela o amor de Deus e o amor com o qual devemos amar nosso próximo. Ainda assim, como falamos de seres humanos, falhos em essência, há muito o que se falar sobre esse amor.
Nos gabinetes pastorais, onde os corações maternos e paternos se abrem intimamente, nos é exposta uma realidade um tanto quanto distorcida sobre amor e sobre o que, de fato, significa ser pai. De igual modo, muitos filhos se apresentam com pesado fardo ou com um desgaste por ter sido alvo de uma expectativa infundada de seus pais, um tanto distorcida quando se fala em linguagem de amor e graça.
Viver em família é a melhor forma de ser conduzido à cruz e, assim, ser aperfeiçoado. Chamo a família de “a faculdade divina do amor”, ela para isso foi instituída! É no lar o lugar onde temperamos nossas vitórias com nossas lágrimas. É também o lugar onde encontramos suprimento, aconchego, além de ser onde somos amados não por causa de nosso sucesso, mas apesar de nossos fracassos. Essa é a essência do evangelho, um que vive em prol do outro, sem interesses próprios e vivem em unidade. Assim sendo, a família é o cerne onde o caráter de Cristo é formado em nós.
A Bíblia chega a declarar que o amor não visa o seu próprio interesse, ele simplesmente paga a fim de que haja relacionamento real[13]. Foi o que Cristo fez por nós para que com o Pai pudéssemos ter relação unitária. Viver em família exige amor incondicional, renúncia e perdão. Essa essência lança fora o orgulho, a cobiça, a ganância, o egoísmo e a iniquidade. A essência de Deus é familiar!
REFERÊNCIAS BÍBLICAS
[1] Salmos 19:1-4; João 1:3; Romanos 1:20; Colossenses 1:16.
[2] 1 Coríntios 1:18.
[3] Salmos 8:3.
[4] 1 Timóteo 3:2,4,5; 1 Timóteo 5:8.
[5] Lucas 12:32; João 1:12,13; Romanos 8:14-17; Gálatas 3:29; Efésios 1:4-6; Hebreus 12:6-8; 1 João 3:1.
[6] Cantares 1-8; Isaías 61:10; Mateus 9:15; Mateus 25:1-13; Marcos 2:19; Lucas 5:34; João 3:29; Atos 20:28; Efésios 5:22-33; 2 Coríntios 11:1; Apocalipse 19:7-9; Apocalipse 21:2-3.
[7] Mateus 23:8; Hebreus 2:11-14; Gálatas 6:10.
[8] Gênesis 2:23,24; Mateus 19:4-6; Marcos 10:6-9.
[9] 1 Coríntios 12:12-31.
[10] Efésios 5: 22-33; 1 Coríntios 11:2-16; Colossenses 1:18.
[11] Hebreus 13:4.
[12] Romanos 3:23-26; Romanos 5:1-2; Romanos 5:20; 2 Coríntios 5:18,19; Efésios 2:4-9; Colossenses 1:19-23; Hebreus 8-10.
[13] 1 Coríntios 13:4-8.
Filhos são bênção de Deus[1]. Eles acrescentam muito à família e, se formos observar, não o fazem pela capacidade de oferecer algo aos pais, mas justamente pela ausência de capacidade própria. É um meio muito interessante de Deus trabalhar, por meio da paternidade Deus nos ensina que o amor surge de ausências e trabalha através delas. Deus não trabalha com sucessos humanos, mas com fracassos e fraquezas. O filho desperta a necessidade de certas virtudes familiares, cria laços matrimoniais por ser um fruto do matrimônio, ensina aos pais uma forma mais simples e genuína de ver e viver – como criança, como filho – além de ser um instrumento para o trabalhar da santificação na vida dos seus progenitores.
Filhos trazem consigo tamanha responsabilidade aos pais, sendo esta não apenas natural, tendo relação com seu mantimento e criação, mas também espiritual. A Palavra de Deus nos apresenta preceitos que dizem respeito a vida de solteiro, que são diferentes de quando se fala da vida matrimonial. Isto é, quando casamos algumas prioridades mudam, pois entra em cena a instituição da família. Assim também, quando tomamos um filho, natural ou não, algumas prioridades também mudam e junto com elas vêm as responsabilidades. Portanto, você que é mãe ou ainda será deve ter consciência de que foi agraciada por Deus, tendo Ele gerado vida dentro do seu ventre ou tendo Ele lhe concedido a graça da adoção (como por Ele somos adotados em Cristo) e, juntamente à tal consciência e gratidão, deve saber o que de fato significa ser mãe. A maternidade é um dom, um chamado de Deus e deve ser visto como um privilégio digno de aceitação e temor Àquele que nos chama.
Não é possível exercermos nossos papéis dentro da família à parte do Pai Celestial. Veremos adiante que, sendo a maternidade um dom de Deus, devemos ter consciência de que um dom de Deus depende dEle para ser mantido também. É Deus em nós, com o caráter de Pai, que pode nos tornar pais e mães que, dia após outro, aprendam e ensinam a sabedoria prática.
Mas, afinal, por que mãe? Por que pai? Por que estes nomes tão pessoais são atribuídos ao próprio Deus?
Nesta altura, considero interessante observar como uma pessoa é tida como mãe ou pai: Ou é por meio da geração e concepção, ou é por meio da adoção. Isso revela Deus e a Sua paternidade, uma vez que, tanto o gerar e o conceber (no caso, o novo nascimento) quanto a adoção, são realidades na filiação espiritual. Logo, tal instituição já tem por princípio a revelação de Deus.
Aqui destaco a importância que Deus dá à intimidade. É na família que temos os relacionamentos mais íntimos e, por meio deles, Deus manifesta o Seu apreço pela a intimidade. Deus é uma Pessoa e pessoas se relacionam. Através da família Deus mostra Sua relação íntima com a Igreja, nada impessoal. Está escrito que Deus dá aos Seus o conhecer de Seus segredos e o Seu caráter[2]. Sempre que a Bíblia expõe a relação de Deus com o Seu povo, deixa explícita a intimidade. Por exemplo, a Bíblia nunca O coloca como sendo “o Deus de Abraão, Isaque e Jacó”, mas sim: “O Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó”. Desta maneira fica evidente que cada um destes homens tinham um relacionamento pessoal com Deus da mesma maneira que Deus os tratava de forma particular. Isto é, falamos de Alguém relacional que mantém intimidade com os Seus e visa a unidade, sendo que anuncia a Sua Vida em nós e a nossa vida nEle através de Cristo.
Essa unidade é muito bem vista no matrimônio e quando falamos de maternidade, essa intimidade torna-se indescritível, pois ainda há o acréscimo de instintos dados pelo próprio Deus. É uma espécie de ligação sobrenatural entre a mãe e a sua cria que expressa uma intimidade nem sempre racional, porém incomparavelmente genuína. O segredo da maternidade está na intimidade que a mãe tem com o seu filho, que deve ser preservada tanto quanto à intimidade de um pai para com um filho. Assim, o mais importante a ser visto não é, em si, a maternidade ou a paternidade, mas os relacionamentos entre família.
Dizem que o amor materno é o maior e mais puro amor do mundo. Não é uma afirmação errada a partir do momento e que reconhecemos que Deus é Pai (e Mãe) e expressa Seu amor em família, entre pais e filhos. Quem é mãe o expõe como sendo indizível, algo nunca visto ou provado anteriormente de alguma outra maneira. Além disso é dito com unanimidade que apenas provando essa realidade é que se pode ter ideia do que ele significa. Filhos, como a própria natureza pode expor com precisão, são frutos de uma unidade entre homem e mulher que se amam. Ou seja, eles devem ser o reflexo desse amor matrimonial – e tendem a sempre ser reflexo do matrimônio dos pais, sendo este positivo ou negativo.
Uma mãe é capaz de morrer a deixar o seu filho sofrer. A Bíblia ainda afirma que, ainda que exista certo desvio da parte de algumas mães que abandonam seus filhos e não os amam como deveriam, ainda assim Deus jamais seria capaz de Se esquecer dos Seus[3]. A Paternidade divina é perfeita porque não está fundamentada no que o homem é ou deixa de ser, está apenas baseada no que Ele é – e Ele é perfeito!
Acho interessante a forma como se dá o amor maternal. Uma mãe pode ter muitos filhos e amá-los todos sem qualquer distinção, ainda assim, um filho jamais poderá tomar o lugar de outro em seu amor. É algo extremamente pessoal e, ainda assim, sem distinção. Conheço várias mães e pais que infelizmente perderam um de seus filhos e não é o outro filho (ou todos os demais) que teve o poder de substituir aquele que foi perdido, por mais que este tenha seu completo amor. Trata-se de um amor pessoal e a Bíblia o revela como tal, sendo o Pastor capaz de largar todas as ovelhas se necessário, por conta de uma só perdida. Ou, quem sabe, o pai que faz uma festa quando o seu filho que estava perdido volta para casa – ainda que tenha nenhuma dignidade[4]. Ter o conhecimento do amor pessoal de Deus por nós, revelado na cruz, nos livra da estima em nós mesmos, da auto justificação e dos complexos, já que nEle encontramos nossa identidade uma vez que, em Cristo, toma o nosso lugar e somos identificados nEle. O cristianismo é o oposto das religiões quando entendemos que não somos aceitos por Deus pelo que fazemos, mas pelo que Cristo fez em nosso lugar. Isto é, diferente das religiões, o evangelho é humano.
As religiões são desumanas pois pregam determinada escravidão quando cobram que sejamos o que não podemos ser e nada fazem para mudar nossa condição. Mas Cristo vem como homem, vive a realidade de homem, sabe que o homem não é capaz de fazer o bem por si mesmo e, então, faz em nosso lugar. Cristianismo é para fracassados que reconhecem ser dependentes de alguém que os salve e, a partir de então, crê no Salvador e na suficiência de Sua obra. As religiões tendem a colocar o homem como centro de todas as coisas, são humanistas, mas não humanas; enquanto o cristianismo simplesmente ama, tirando os méritos humanos de cogitação e proporcionando livre acesso a Deus pela graça, através da fé em Cristo. O amor maternal/paternal tem traços do cristianismo!
O dom da maternidade leva consigo características do amor divino e trabalha em nós conforme este amor real, além de dispensar discernimento e aptidão para uma obra ainda mais meticulosa de Deus. É divino ver um ser egoísta amando outro ser que só sabe proporcionar problemas. Essa linguagem que encontramos na família nos leva automaticamente a reconhecermos o Deus trino e a provar dos Seus propósitos que de outra maneira não poderiam ser representados. Vamos à alguns exemplos práticos?
Antes mesmo de nascermos já causávamos desconforto em nossas mães. Chutando em sua barriga, impedíamos várias noites de sono. Por nossa causa elas passaram meses sem conforto e sofreram constantes mudanças em seus corpos e vidas. Ainda assim elas nos esperavam com ansiedade, regozijo e amor. Elas nunca nos culparam pelas mudanças que causamos (em seus corpos e suas vidas por inteiro), ao menos se arrependeram de nos ter dado à luz. O parto certamente foi um momento doloroso que, inclusive, deixou nelas cicatrizes. Mas nem por isso este deixou de ser o momento mais esperado durante nove meses. Mães seriam capazes de morrer para que filhos tivessem vida em seu lugar. Isso nos revela algo semelhantemente profundo como o que Deus fez por nós em uma cruz. As cicatrizes do Parto dos filhos do Reino estão nos punhos de Jesus Cristo e a maior dor certamente não foi física. Ele foi maldito em lugar dos Seus, ferido de Deus e oprimido, moído por nossas iniquidades, castigado para nossa paz com Deus e por isso temos Vida, e Vida abundante[5].
Deus assumiu a responsabilidade da Sua filiação. Ele assumiu paternidade de uma vez para sempre. A maternidade é algo incondicional e perpétuo na vida de uma mãe, nunca mais deixamos de ser filhos e isso em nenhum momento é para ela algo pesaroso, assim como sabemos que a paternidade divina não pode ser desfeita e é Ele quem nos assume. Ele é a garantia da salvação, e o faz com prazer em Si mesmo[6].
Quando nascemos precisamos de cuidados e atenção. Custamos reais e centavos inesquecíveis. No meu caso, minha mãe abandonou seu trabalho externo para poder dedicar todo o seu tempo a mim. Isso significa que muitas das prioridades de nossos pais mudam e eles têm que abdicar de muitas coisas pessoais em nome de seus filhos. O melhor a se observar é que, se perguntarmos a eles se fariam tudo novamente, a resposta é objetiva: “com certeza!”. Mas Deus, em Cristo, foi muito além. Ele abriu mão da Sua glória e semelhante a um homem se esvaziou, se tornou servo e de servo, morto para que pudéssemos viver em Sua ressurreição[7]. Não custamos apenas o “abrir mão da Sua glória”, mas Sua própria vida para que agora pudéssemos a ter vivendo em nós. Isso sim foi um sacrifício – perfeito e suficiente sacrifício[8].
Você tem noção de quantas noites incomodou seus pais com seus choros e necessidades? Certamente não, apenas eles podem ter essa noção. Ninguém é melhor para conhecer suas necessidades, contradições, vergonhas e fracassos do que seus pais. Eles te conhecem melhor do que você mesmo. Quando você não existia, eles já existiam. Ainda assim, nada pôde abalar o amor deles. Pode ser que hora ou outra tenham se irritado ou cansado, mas nunca perderam o prazer de cuidar dos filhos. Uma mãe pode acordar na madrugada com um choro sem jamais expressar desânimo ou desgosto por estar ali, servindo ao seu filho. Esse amor é quebrantador quando temos nossos olhos abertos à reconhecê-lo!
Deus, por Sua vez, não se cansa, é algo ainda mais genuíno. Isso nos faz testificar que nada do que somos ou deixamos de ser pode mudar quem Deus é e o Seu amor por Seus filhos. Nada do que deixamos de ser pode mudar o fato dEle ser, esse é o Seu Nome. Ele é quem conhece uma a uma das nossas ausências, os nossos fracassos, a nossa nudez e, ainda assim, ama. Ele é Amor, quer sejamos algo quer não sejamos; diante dEle, em confiança, nenhuma vergonha permanece.
Quando em Adão vimos estar despidos e procuramos nos esconder com nossas tentativas de justiça, Ele foi quem apareceu com a provisão de nos cobrir. Cobrir-nos é o que Deus fez em Cristo, não encobrindo pecados, mas livrando-nos deles[9]. É porque somos cobertos, perdoados, que podemos nos achegar com confiança para abrir o verdadeiro íntimo, nos despir para confessar pecados. Assim se manifesta a relação sem máscaras, em intimidade real.
Vamos falar agora das indesejáveis fraldas. Como é que mães conseguem amar ao trocar fraldas sujas, sabendo que alguma horas depois terão mais uma daquelas esperando por elas? Como conseguem olhar para o filho e enxergar alguma coisa além daquela podridão? Uma mãe não pode criar outra expectativa a respeito do seu bebê, afinal, fralda suja é tudo o que ele sabe produzir. Mas sabe o que é mesmo impressionante?! Elas trocam fraldas com prazer, com sorriso. Isso é natureza divina!
Se fosse por nossa produtividade ou valor próprio, jamais seriamos aceitos ou amados[10]. Deus não pode esperar de nós algo além de “fraldas sujas” porque não sabemos fazer ou oferecer algo além disso e Ele continuamente demonstra prazer em nos limpar. Isso foi o que Ele fez voluntariamente em uma cruz, de forma suficiente e decisiva.
Deus não poderia nos aceitar da forma como estávamos, entregue a nós mesmos. O que um Deus justo, que não abre mão da justiça por conta do Seu caráter, faria com um ser repleto em injustiça? Em outras palavras, o que uma pessoa extremamente limpa faria com um bebê extremamente sujo e que só sabe se sujar? Deus teria todos os motivos para nos condenar. Uma criança, além de só saber sujar fraldas, não pode limpar a si mesma, ela está entregue a si e, se ninguém interferir na situação, só poderá apodrecer em sua morte. Mas Ele amou e, por isso, entregou Seu Filho Unigênito, condenando nEle o pecado, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna[11]. Não podemos nos limpar, mas Ele mesmo fez a obra, em uma cruz lavou os Seus tirando deles toda a iniquidade ao carregá-la sobre Si e, agora limpos, nos aceitou perante a Sua justiça. Deus não pode enxergar em nós algo além de podridão e nos almejar por isso, mas almeja apesar disso e por intermédio de Cristo, O Mediador![12]
A maternidade ainda nos ensina duas palavras chave: A dependência e a suficiência. Quero dizer, tudo o que um bebê precisa ele encontra em sua mãe: o alimento, o descanso, a paz, o consolo. Há unidade e total confiança. É lindo como um bebê espera e procura pela mãe, sendo que nenhum outro alguém pode ser capaz de substituí-la. Nada do que ele precisa está fora de sua mãe! Assim também, nada do que precisamos está aquém ou além de Deus, em Cristo! Nele, todas as nossas necessidades são supridas – as nossas ausências e carências[13]. A nossa insuficiência é suprida pela suficiência dEle em Sua graça.
Mãe é a pessoa a quem o filho, bebê dependente, oferece todas as suas sujeiras, perante quem não se envergonha da sua nudez. Ele pode ser ele mesmo e é aceito. Existiria algo mais íntimo do que esta relação? Um bebê sabe que pode confiar em sua mãe, não pelo que ele oferece a ela, mas simplesmente porque é a sua mãe. Assim, ele está entregue, rendido e saciado! É nesta simplicidade de relacionamento real que vive quem, de fato, conheceu a Cristo. É de bastante valor considerarmos que não precisamos ser os melhores ginastas ou os filhos que mais presenteiam aos pais para que por eles sejamos aceitos e/ou amados. Não precisamos apresentar currículos com vastos bons desempenhos e sucessos como motivos para orgulho paterno, assim como não precisamos de obras para que Deus ame. Mas se também O amamos e nos importamos com nosso relacionamento com o Aba, faremos o melhor simplesmente para O agradar (não para comprá-lo).
Nós constantemente erramos com nossos pais, somos rebeldes e ingratos. Mas nunca foi lavando uma pilha de louças sujas que obtivemos perdão, foi pela graça que eles dispensam a nós. Se você é pai ou mãe, pode responder com sinceridade: um carro lavado ou uma pilha de louças limpas compram o seu perdão? Absolutamente, não. Isso nos mostra que não é por meio de penitências ou obras humanas que conquistamos a Deus ou obtemos perdão dEle, é apenas por meio de Cristo – a graça – que nos cobre. É por Ele que temos acesso a Deus como Pai e, como Pai, a Ele podemos confiar nossos fracassos.
Assim também, nunca vi uma mãe ou um pai planejando ter um filho, sonhando em ter um filho ou descobrindo uma gravidez pensando em: “agora vou poder me livrar das louças sujas, vou ter quem faça por mim.” Ou: “eu quero ser pai porque aí não vou mais precisar lavar o meu carro”. Na verdade, quando se fala em maternidade e paternidade os pais pensam em dar, doar, amar, se entregar. “Quero que ele tenha o melhor, quero
que tenha saúde e caráter”. Em nenhum momento conveniências entram em questão! Pelo contrário, o que entra em questão é: “como posso servir?”. Ainda mais: “os momentos em família, o quanto vou ensinar, os passeios”. Assim é Deus, um PAI que tem filhos e não empregados e, se servos, não por meio de coleiras, mas por gratidão e amor eterno que só pode vir dAquele que nos amou primeiro!
REFERÊNCIAS BÍBLICAS
[1] Salmos 127:3-5.
[2] Salmos 25:14.
[3] Isaías 49:15.
[4] Lucas 15; Mateus 18:10-14.
[5] Isaías 49:16; Isaías 53; Romanos 6:6-9; Romanos 8:3; Gálatas 3:13; Colossenses 2:14, 15; 1 Pedro 2:24, 25.
[6] João 6:37-40; João 10:11, 14, 15, 17, 18.
[7] Romanos 6:8-10; Romanos 8:11; Filipenses 2:6-9.
[8] Hebreus 8-10.
[9] Gênesis 3:21; Salmos 32:1; Salmos 85:2.
[10] Isaías 64:6; Romanos 3:10-23.
[11] João 3:16.
[12] Efésios 1:3; Filipenses 4:12-13, 19.
[13] 1 Timóteo 2:5.
Quando olhamos para nossa realidade de filhos, chegamos à conclusão de que éramos pessoas que nada poderiam oferecer além de trabalho, fraldas sujas e cansaços. Nós éramos os mestres em promover sujeiras e não sabíamos fazer algo além disso, sequer poderíamos nos limpar. Como filhos continuamos dando trabalho aos nossos pais, porém não deixamos de ser amados por isso e jamais seremos capazes de desfazer a nossa posição de filhos. Essa realidade não é diferente quando analisamos a humanidade perante Deus através da cruz. É exatamente assim, esses bebês, pequenino rebanho[1], que somos para Deus – homens e mulheres que não sabem fazer outra coisa além de pecar e, ainda assim, são amados e, pela graça em Cristo – temos livre acesso a Deus como sendo o Pai.
Algumas particularidades são interessantes quando falamos em paternidade. Elas refletem o Reino de Deus em Sua forma de ser e atuar. O que é indispensável destacarmos é que em todas estas particularidades a graça fica em destaque. Por exemplo: sempre que falamos sobre ser filho ou ter pai e mãe, falamos sobre ter uma herança garantida – tudo o que é dos pais, é do filho. A herança é essencialmente graciosa, já que não se trata de uma conquista do herdeiro, mas é o fruto do trabalho do pai que passa graciosamente ao filho. Um herdeiro encontra-se em posição passiva, de apenas receber o que lhe foi imputado como justo, isto é, o que lhe foi dado. Assim também é a forma como os filhos de Deus recebem o Reino, pela graça, pelo esforço do Pai e não por conquista e suor próprio. Entendemos assim que a salvação não se trata de um trabalho humano de muitíssimas obras que aparentam ser boas, mas sim de uma obra suficiente realizada por Cristo no lugar dos filhos de Deus. Não de sacrifícios humanos que não podem cobrir pecados, mas do sacrifício de Cristo que cobre multidão de pecados. Não falamos sobre aceitar Cristo, falamos sobre crer nEle (no fato de termos sido aceitos pelo Pai através dEle)[2].
Quando analisamos a condição de um filho, vemos um ser que em todos os momentos se encontra em uma posição passiva, ele é dependente. Isso é referente, inclusive, sobre o nascimento ou adoção. Quero dizer, o filho não tem o poder de escolher de quem nascer, sequer quando, onde ou de que forma nascer. Se alguém tem alguma posição que demonstra poder nessa situação são os pais. É o pai quem gera o filho e é a mãe quem o concebe. De igual forma, um filho que está para adoção não tem o poder de escolher a que família pertencer, ele é simplesmente tomado pela família que o escolheu, que o amou. Assim, quem tem o poder de escolha são os pais que o amaram, e não o filho. Isso reflete o evangelho quando sabemos que não fomos nós que amamos a Deus, foi Ele quem nos amou primeiro, nos adotou em Cristo e nos vivificou.
É Ele quem nos faz nascer de novo, isto é, nos dá vida[3]. O Pai é quem está na única posição ativa e tem o poder de tomar filhos. E o Seu amor passa a nos constranger quando vemos que não temos qualquer coisa a oferecê-Lo, sequer boas obras, enquanto é Ele – O Perfeito – quem nos aceita. Esse constrangimento nos dá arrependimento e gera perpétua gratidão, que é a essência que move a vida de todo cristão que passou pela cruz. Essa essência santifica! O evangelho nos liberta de nós mesmos quando, ao crer em Cristo, vermos que não precisamos ser porque Ele é por nós e em nós. Não precisamos usar máscaras, criar um comércio para barganhar com Deus, sequer pagar algum preço. Está consumado! Temos livre acesso a Deus por meio de Cristo e um relacionamento intimamente rico está restaurado, como o saudável relacionamento de pai e filho[4]. Nessa realidade, quando mais conheço o Aba mais eu quero dEle, e menos eu quero de mim!
A CONDIÇÃO HUMANA
Sabendo dessa realidade, podemos analisar a humanidade. Esta encontra-se perdida no (e em) pecado. Isso significa que estamos mortos (separados da Vida que é Deus), não apenas por consequência de maus atos, mas principalmente por causa do pecado que habita em nós. Por conta dessa essência pecaminosa chamada egoísmo e incredulidade, biblicamente conhecidos como iniquidade, não sabemos amar nada além de nós mesmos. Amar a Deus é algo totalmente impossível considerando nossa própria vontade e capacidade, então é Deus quem nos desperta a amá-Lo para que possamos corresponde-Lo voluntariamente; é Ele Quem nos concede a fé para que possamos crer e voltar ao deleite em Sua dependência. Vemos assim que todas as coisas carecem da graça de Deus, porque Ele é Pai[5].
Se falamos de seres que estão mortos, primeiramente precisamos analisar o que é morte e, depois, qual é a condição de um defunto. A morte, antes de fazer um cadáver, faz um solitário. Isto é, estamos falando de alguém que foi separado da existência. A morte espiritual não é diferente: antes de provarmos o que significa ser um cadáver, primeiramente experimentamos uma existência ausente de comunhão, ausente de vida, vazia. Assim se encontra a humanidade apartada da comunhão de Deus: com um vazio existencial, ausente em significado.
Ser separado de Deus significa não ter identidade própria. Afinal, se o Homem é criado à Imagem e Semelhança de Deus, a partir do momento em que este se vê separado dEle, perde totalmente a sua identidade[6]. Se fomos criados para relacionamento com Deus e o partimos, perdemos o sentido de ser. Então vemos uma humanidade que encontra um vazio em si mesma, um vazio de sentido. Ela não é e procura ser, sozinha. Repleto de si mesmo, o homem ouve dia e noite o ecoar da morte em sua alma, cheia de vazio, solidão e insatisfação, tentando preencher a si mesmo da forma que considera suficiente. Isso é morte espiritual. É um conflito ainda maior quando consideramos que passamos a ter medo daquilo que antes nos era natural, passamos a conhecer a vergonha e a usar máscaras, porque desconhecemos e não confiamos no caráter de Deus[7]. Essa vida perdida por conta de um relacionamento partido só pode ser restituída a partir do momento em que temos o relacionamento reconciliado. Agora, analisemos a condição de um defunto: será que um defunto tem alguma condição de reconciliar algo por si mesmo?
Um cadáver é algo infrutífero que só pode, por si mesmo, apodrecer em sua morte. Se você convidar para ou mandar um destes fazer algo, nem ouvir ele poderá, quanto menos corresponder. Cadáver é um corpo onde não há mais vida e que, por isso, não mais corresponde a qualquer estímulo físico. Espiritualmente é da mesma forma: um morto espiritual não pode corresponder aos estímulos espirituais. Esse corpo existe e respira, mas não vive, não fala a linguagem de Deus e nem pode compreendê-la, afinal, nem pode reconhecê-la. É ainda incompatível com o Reino de Deus e não pode desfrutar o lar eterno,
a vida, tudo o que Deus é[8].
A BOA NOTÍCIA
Deus não pode esperar que a humanidade tome alguma atitude para reconciliar o relacionamento que ela partiu. Seria irracional acreditar que Deus espera que um defunto se ressuscite, e a fé não é irracional. Algumas pessoas acreditam que podem agradar a Deus cumprindo várias tarefas, mas a Palavra vai nos dizer que, se não for por Cristo, através da nossa fé nEle, é impossível nós O agradarmos[9]. O homem natural (ainda morto no pecado/ não nascido do Reino de Deus) só é capaz de procurar a Deus em busca de seus interesses. Isso não é amor, muito menos relacionamento!
A questão é que tarefas, penitências e currículos não reconciliam relacionamento. Na verdade, essa busca por agradar a Deus por ter algum interesse ou por ter medo de algo é muito perversa, demonstra apenas tamanha corrupção humana e, por isso, é reconhecida biblicamente como imunda. É nessa realidade de defunto que compreendemos a Boa Notícia de Deus, que é o evangelho – Cristo.
Em Cristo tudo se faz novo. Isso acontece porque em Cristo fomos reconciliados com Deus, que é a Vida. Somos enxertados na videira e a seiva – o Espírito Santo – passa a correr em nós a nos vivificar. A vida eterna passa a habitar em nós e nos restaura. Rios de águas vivas passam a fluir dentro de nós porque a Fonte que jorra para a eternidade passa a habitar em nós. Cristo oferece a Si mesmo, conhecido como “Água viva” – um tipo de esperma – que produz vida onde só havia potencial para morte. Deus é Pai, quem nos dá vida através de Seu Filho, Jesus Cristo. Ou ainda, água viva como quem sacia o homem perpetuamente e traz vida a ele. Cristo é o segundo Adão, por meio de quem Deus gera filhos do Reino e para ele. Assim, somos feitos mananciais enquanto antes não passávamos de uma terra seca e estéril[10].
A RECONCILIAÇÃO
Para entendermos como a reconciliação foi concretizada, primeiramente avaliemos o problema do pecado e o que Deus requer: Deus é justo. Essa é uma ótima notícia, afinal, como seria ter um deus injusto/corrupto governando o universo? Porém, este atributo divino não agradável a pecadores. Quero dizer: o que faria um Deus Justo com seres totalmente injustos? Se Deus é justo, Ele precisa executar a justiça e punir o injusto. Mas como executar tal sentença sobre os filhos a quem amou? Temos então um dilema e este não pode ser resolvido pelo homem!
Minha injustiça não permite que Deus me aceite, por mais que me ame. O Caráter Santo requer santidade e eu não sou santa. Pior ainda que isso é o fato de eu não poder me fazer santa, isto é, estou perdida em minha própria condição se depender de meus potenciais.
Se em algum momento considero ser suficiente em minhas tentativas de justiça, sou o pior dos pecadores, pois ainda considero determinada independência, suficiência e dignidade. Acontece que isso é ego e ego é meu pecado!
Assim sendo, Deus não pode esperar algo vindo da minha parte. Não podemos nos salvar e não há qualquer vestígio de esperança em nós mesmos. A reconciliação não pode partir da humanidade, estamos mortos. A morte escraviza, uma vez que é uma condição a qual não podemos mudar. Ou seja, para piorar, somos escravos do pecado[11].
Diante dessa realidade, o evangelho anuncia um Deus que desce para reconciliar o que nós não podemos (e não queremos), libertando-nos do cativeiro. Isso é feito de uma maneira humanamente louca, considerando que um Deus Santo e Todo Poderoso desce em uma realidade fracassada para nos salvar de nós mesmos. O Deus que tudo é, desce para salvar homens que acham que são alguma coisa. Não se trata de uma tentativa humana de subir ao trono, mas sim de um Deus que desce do Trono, se faz homem e, de homem, toma o nosso lugar de morto e nos justifica[12].
Isso acontece porque em Cristo foram imputadas todas as nossas injustiças e Ele foi tido como maldito de Deus em nosso lugar. Quando Jesus Cristo recebe sobre Si os meus pecados, Deus O vê como maldito e me vê como bendita. Então Ele vai, paga a minha dívida e me entrega o comprovante de pagamento. Agora a justiça de Deus já não é contra mim, porque ela foi saciada. Agora eu tenho o amor de Deus e a Sua justiça ao meu favor. O relacionamento está pleno.
Por isso, apenas por meio de Cristo temos o nosso relacionamento reconciliado, porque apenas Ele sacia a Justiça do Pai e nos torna compatíveis com o Reino de Deus[13]. Podemos então nos achegar diretamente ao Trono da Graça, crendo que por Cristo somos aceitos e temos um Pai de amor que, por ter nos amado, entregou Seu Filho a fim de ter toda uma descendência. Isso significa justificação, aqueles a quem Deus amou foram justificados[14]. Não somos mais vistos por nossos méritos, mas pelos méritos de Cristo. Ele nos resgatou da nossa morte e nos deu vida em Sua ressurreição. Agora, vivos pelo Espírito, podemos simplesmente nos relacionar e temos nossa identidade em Cristo. Você crê nesta obra divina? Crês que o seu pecado estava em Cristo e com Ele você morreu para que agora
pudesse viver?
A LIBERDADE NA GRAÇA
A fé em Cristo, sabendo que não somos aceitos por Deus por nossos méritos, elimina de nós o fardo de tentar conquistá-Lo. Deixa de ser um comércio. Conhecendo-O como Pai, temos com Ele um relacionamento íntimo genuíno ausente de medo, vergonha e barganha. Sendo Deus e, mais do que isso, meu Pai e melhor Amigo, sei que Ele conhece uma a uma das minhas fraquezas e, ainda assim, me aceita por causa de Cristo. Isso faz com que eu não use mais máscaras e não mais viva uma falsidade tentando ser o que eu não sou, mas confiando nEle e em Seu amor, prossigo sendo santificada na liberdade de nossa relação. Falamos de família, falamos de um Pai em quem podemos confiar e que nos aceita. Dentro dessa realidade, estamos livres para amá-Lo verdadeiramente, pelo Espírito da Vida que em nós passa a habitar.
Não temos algum fim próprio em nos relacionar com Deus, temos a simples intenção de nos relacionar. A relação com Deus não tem uma finalidade, ela é a finalidade. A gratidão toma a cena, anula o ego humano e produz frutos de arrependimento, isto é, ela santifica.
A realidade da graça em nós é a Vida. Dá para entender que a graça não é um simples adereço do cristianismo, mas sim o próprio cristianismo? Ela não é parte dele, ela é tudo. Graça é Cristo vivendo em nós, é a confiança que liberta. Ela é ressurreição, o deleite e satisfação em Cristo. Graça é a paz com Deus que gera paz de Deus que não pode ser abalada por circunstancias. É uma nova identidade e nova natureza que anseia por santidade e não se deleita como antes no pecado ou que, pelo menos, não se contenta com ele porque ama a Deus e não quer desagradá-Lo. Não é medo da morte, é amor à vida!
Como alvos do amor e da justiça de Deus – todos aqueles que foram unidos em Cristo, na Sua morte – já não são mais estranhos para o Pai, mas sim filhos amados, recebidos pela adoção concreta em Cristo. Aquele que foi unido a Cristo em Sua morte (isto é, reconhece que morreu em Cristo – estava nEle quando Este tomou sobre Si os nossos pecados), também com Ele vive[15]. Somos dependentes da Graça e seguros nela ontem, hoje e amanhã.
Assim, o amor de Deus não está anunciando que nós temos alguma virtude em nós mesmos, mas sim que somos cheios de falhas e dependentes; apesar disso, Ele é perfeito em nos amar. Em outras palavras, Seu amor é constante apesar da nossa inconstância porque não está baseado em quem nós somos, mas somente nEle mesmo. Lembro-me perfeitamente do dia quando Deus ministrou a mim através de uma bela figura/ representação: era uma mãe que sorria enquanto via seu pequenino bebê dormir em seus braços. Enquanto me deu de ver aquela cena, me perguntou: “filha, por quê esta mãe sorri? Será que o filho dela fez algo que lhe desse prazer? ”. A resposta era óbvia: não, inclusive, este bebê mostra total impotência e dependência, pois dorme e, enquanto acordado, só oferece trabalho à sua mãe. A resposta a esse questionamento deixou em mim uma convicção perpétua a respeito do amor de Deus: Ele não ama filhos porque filhos dão a Ele prazer, ao contrário, o Seu prazer está em amar filhos. Deus não sorri porque eu faço algo que O agrada, Ele sorri porque me vê como alvo do Seu amor.
Deus escolheu os piores para chamar de filhos, e com esse amor os ama, porque os justos não carecem de justificação, eles se auto justificam (ou tentam). O amor de Deus nunca exalta o homem, antes, o conduz ao quebrantamento e ao arrependimento[16]. O amor de Deus é constrangedor a ponto de anular o homem, isto é, mortificar o seu “eu” e, justamente nisso, está a cruz. Isso é evangelho! A graça de Deus quebra o homem por convencê-Lo de que ele não é suficiente. Afinal, se é de graça, é recebido porque não foi capaz de ser produzido pelo homem. É assim que a graça nos livra de nós mesmos, ela arrasa a nossa estrutura hipócrita!
O amor divino, assim como o amor maternal, excede a nossa razão. Ou seja, não podemos conter esse amor em nosso raciocínio, mas podemos prová-lo. E justamente por isso, por exceder minha razão e minhas capacidades, me anula, me quebranta, me liberta. Ele É amor, então o dia que você puder conter Deus em seu entendimento, você poderá entender esse amor. Mas como isso não é possível, se contente em crer nesse amor, na revelação deste em Cristo crucificado e ressurreto!
AMOR COM O QUAL DEVEMOS AMAR
O amor de Deus está destacado em cada uma das minhas ausências. A cada vez que me deparo com minha capacidade de errar, vejo em destaque seu amor arrebatador e avassalador que, mesmo já conhecendo toda essa minha capacidade, continua investindo em mim. É com esse amor que devemos amar nossos filhos, maridos e esposas, pais e o próximo mais distante. Ainda que estes nada mereçam, os amamos porque reconhecemos que também fomos amados; nos relacionamos porque tivemos nosso relacionamento com Deus reconciliado. Somos feitos ministros da reconciliação e amamos relacionamentos estruturados no amor divino de forma que, aquele que não ama, não conhece a Deus[17]. Isso começa dentro de nosso lar: perdoamos porque reconhecemos o perdão de Deus, amamos porque dispensamos o amor que dEle recebemos, investimos no próximo porque antes Alguém investiu em nós e não cobramos retorno algum já que nossa esperança está apenas nAquele que nos amou e nEle estamos satisfeitos.
REFERÊNCIAS BÍBLICAS
[1] Lucas 12:32.
[2] Hebreus 8-10.
[3] João 15:16; Efésios 2:1-7; 1 João 4:19.
[4] João 19:30; Efésios 2:18; Efésios 3:12; Hebreus 10:19-22.
[5] Gênesis 6:5; Gênesis 8:21; Salmo 5:9; Salmo 10:4; Salmo 51:5; Salmo 58:3; Salmo 143:2; Eclesiastes 9:3; Isaías 53:6; Isaías 64:7; Jeremias 13:23; Jeremias 17:9; Mateus 15:19; Marcos 7:21-23; Romanos 3:10-27; Romanos 5:12; Romanos 7:18; Efésios 4:18; Colossenses 1:21; 1 João 1:8-10.
[6] Gênesis 1:26-28.
[7] Gênesis 3:7-13.
[8] Deuteronômio 29:2-4; Ezequiel 11:19,20; Mateus 11:27; João 3:5-7; Romanos 8:7,8; 1 Coríntios 1:18,21-24; 1 Coríntios 2:14; 2 Coríntios 4:3,4; Hebreus 10:16.
[9] Salmo 51:16; Provérbios 15:8,9; Isaías 64:6; Romanos 8:7,8; Hebreus 11:6.
[10] Ezequiel 37; Romanos 5; 2 Coríntios 5:17-19; João 4:10-14; João 7:38; João 14:6; João 15; 1 Coríntios 15:45;
[11] João 8:34; Romanos 6:6,16-20; Romanos 7:14; Gálatas 4:8,9; Tito 3:3; 2 Pedro 2:19.
[12] Filipenses 2:7,8;
[13] Isaías 53; Colossenses 2:14; 1 Pedro 2:24,25;
[14] Romanos 5:1,2; Romanos 8:30;
[15] Romanos 6; Romanos 8;
[16] Lucas 5:32; 1 Coríntios 1:26-31;
[17] 2 Coríntios 5:19; 1 João 4:8;
O amor de Deus é refletido na maternidade e paternidade. Devemos amar nossos filhos da mesma maneira como somos amados por Deus. Assim, nossos filhos terão certa facilidade em identificar o amor divino por eles, pois reconhecem a Paternidade Divina através do natural de seus pais. Ou seja, a paternidade e a maternidade devem refletir o caráter de Deus, manifestando a Sua essência. E nós, mesmo que tenhamos tido péssimos exemplos de paternidade natural, podemos ter a imagem exata do que isso significa ao olhamos e provarmos a Paternidade divina. Esse ministério trata-se, como todos os outros, de receber diretamente do alto para dar ao próximo e, repito, ninguém pode ser mais próximo do que a sua própria carne (esposa/ marido) ou sua própria prole.
Eu tenho ótimos pais, que muito me amaram e a mim se dedicaram – e prosseguem assim fazendo. Ainda assim, meus pais são falhos, são homens. Minha mãe não teve um exemplo de paternidade muito bom e trouxe marcas disso para a sua maternidade. Se eu não quiser levar esse desconhecimento e desfalque adiante, preciso ter a imagem correta de maternidade e, mais do que isso, um Pai que dia a dia me supra e ensine a ser mãe. Para que eu possa ter a imagem correta sobre ser mãe, não posso apenas olhar para meus pais, preciso conhecer a Paternidade de Deus e tê-Lo habitando em mim para que Ele em mim manifeste Seu amor por meus filhos. Ele é o exemplo e Ele é a Vida. Cristo é o exemplo de amor, Ele é a imagem perfeita de abnegação e sacrifício em prol de filhos e irmãos e, mais do que isso, Cristo em nós é o amor que ama nossos familiares. Apenas em um relacionamento com Ele posso conhecer, desfrutar e aprender maternidade. Afinal, como podemos ser boas mães (ou pais) se não tivermos o referencial da Paternidade Divina? Se este ministério se trata da revelação de Deus, como podemos exercê-lo sem o conhecimento real de Deus? E, se nem mesmo sabemos ser filhos, como podemos ser pais?
O pai é a primeira pessoa do sexo masculino com quem a menina tem algum relacionamento. Se esse relacionamento não for bom e exemplar, é bastante provável que ela tenha problemas futuros com homens, a menos que Deus intervenha e desfaça a imagem distorcida sobre masculinidade e sacerdócio. De igual modo, um menino se espelha no seu pai, ele é o seu exemplo maior. Com a mãe, a criança tem um vínculo de dependência muito grande em todos os sentidos e é ela quem tem maior responsabilidade sobre educar e criar os filhos, sendo a quem Deus dispensa sabedoria para edificação do lar. Se essa mulher não estiver bem estabelecida, deixará marcas permanentes em seus filhos. E, se os pais não vivem o verdadeiro matrimônio, que exemplo dão para seus filhos, que estrutura terá esse lar? Vemos então a importância de um relacionamento com Deus para que possamos viver a Sua instituição. Apenas o relacionamento de cima para baixo (entre Deus e o homem) pode criar e manter relacionamentos de lado a lado (entre homens e homens). A cruz é essa evidência. Família não se trata de um ambiente perfeito para que seja capaz de nos satisfazer, mas sim de um ambiente satisfeito na suficiência de Cristo e que, nessa realidade, dispensa amor a fim de que todos sejam aperfeiçoados[1].
AMANDO NOSSOS FILHOS COMO DEUS PAI NOS AMA
Não é correto fazermos uma lista ideológica sobre família, justamente porque o dia a dia envolve circunstâncias e pessoas que fogem dos ideais. Aqui está a importância do amor que recebemos de Deus e é com este amor que devemos amar nossos familiares. É bem provável, inclusive, que nossos filhos apresentem desconformidades justamente nas áreas que nós tanto requeremos, pois é desta maneira que Deus irá trabalhar em nós a Sua graça. É através de fraquezas que Ele revela Graça e aperfeiçoa Seu poder[2].
Na igreja (entre os membros do corpo de Cristo), por exemplo, convém que haja diferenças de opiniões em determinados pontos secundários para que através desse desajuste possa ser trabalhada a tolerância, como vemos em Romanos 14. De maneira nenhuma o amor poderá ser trabalhado em um meio onde tudo nos é favorável, ao contrário disso, para que ele seja real é necessário que haja mais de uma pessoa com tudo o que diz respeito a ela – tanto os seus pontos fortes quanto os seus pontos fracos. Afinal, se amo apenas o que me é favorável, não posso dizer que amo o próximo, mas sim a mim mesmo[3].
Deus é Amor[4]. Isso significa que Deus não é singular, mas plural: afinal amor só pode existir quando alguém além do próprio está envolvido. Por isso, Deus é três, mas é um. Entre três Pessoas (Pai, Filho e Espírito Santo) não há qualquer vestígio de competitividade, interesse próprio, orgulho ou marcas de iniquidade, tudo o que um quer o outro também quer. É um relacionamento sem trincas, porque Deus é Amor. Deus é o exemplo, em Si mesmo, do que amor significa. Ele é o manifestar, a essência e a própria Pessoa do Amor. Fora dEle não há amor, Amor é o Seu Nome! Será sempre impossível amar alguém se o próprio Amor não habitar e trabalhar em nós, é impossível desvincular o amor de um relacionamento com Deus.
Por isso, é um grande erro considerarmos que “amar” e “gostar” sejam a mesma coisa ou integrantes da mesma natureza. Na verdade, amar e gostar são opostos (um é de natureza divina e outro de natureza humana). Quem gosta de alguém o faz porque está sendo agradado, está tendo alguma satisfação nisso. No momento em que a pessoa deixar de proporcionar tal satisfação, deixará de ser gostada também. Isso parte relacionamentos a partir do momento em que a frustração começa a gerar mágoas, rixas, iras, contendas, remorsos, ódio, competitividade, entre outros. Gostar fala sobre estar sendo satisfeito e o momento que a insatisfação aparece dentro de um ser orgulhoso/ egocêntrico/ egoísta, o caos está armado!
O oposto disso tudo é o amor que não tem em vista os próprios interesses, prazeres e satisfações – o amor está centrado na cruz que é a anulação de nós mesmos[5]. O amor de Deus entrega Seu Filho por pecadores. Deus não gosta de mim, pois nada em mim pode produzir nEle alguma satisfação; Ele me ama! Isso é libertador, pois é algo desvinculado das minhas obras ou da minha dignidade. Se Deus tem algum prazer em Seus filhos, este prazer está em amá-los, nada além ou à parte de dispensar misericórdia e graça sobre eles[6]. Assim, o amor torna-se o fundamento dos relacionamentos, a segurança.
É verdade que quando descobrimos ser mães ou pais não pensamos no que vamos lucrar com isso. Porém, muitas vezes idealizamos características de nossos filhos. Esperamos, as vezes, que eles sejam o que nós não podemos ser. Há, inclusive, quem projete em seu filho até a profissão que gostaria de exercer e não conseguiu, projete um parceiro que considera ideal (para si mesmo) e até, quem sabe, seu próprio caráter. Não almejam que o filho sirva a Deus, não confiam no cuidado de Deus, almejam que o filho seja a imagem idealizada deles mesmos; são idólatras. Há quem considere um filho capaz de suprir o vazio existencial de sua alma, o que não é possível. Colocar no filho a expectativa infundada de que ele é capaz de nos satisfazer é, além de desumano, terrível pecado. É tamanha presunção considerarmos que pessoas possam suprir em nós o lugar de Deus.
O problema não acaba por aí, os relacionamentos começam a entrar em conflito! Quando o filho não for capaz de corresponder ao ideal criado pelos pais, ele será tratado como impróprio e sentirá essa inadequação. Ou seja, ele começará a ser cobrado pelos pais e se verá dentro de um ambiente impróprio, talvez“bom demais para a sua dignidade contraditória”. Desta forma, não seria novidade se o filho começasse a se apartar do relacionamento com os pais, pois sente-se envergonhado e incapaz de satisfazê-los. O pior é que, por mais que um filho tente agradar os pais, ele nunca será suficiente para satisfazê-los. Ele pode começar a usar máscaras, tentando ser quem não é e, além de fardo pesado, será um trabalho vão. Na verdade, o ambiente onde habita o amor não é regido por adequação, adestramento, recompensa ou medo, mas pelo amor que santifica, que ensina, que perdoa, que abraça. Assim é o amor Paterno Divino.
É errado criarmos expectativas a respeito de nossos filhos uma vez que eles não são suficientes para suprí-las. O correto é confiarmos em Deus, termos nEle – e somente nEle – todas as nossas expectativas e simplesmente dispensamos em nossos relacionamentos o amor que dEle recebemos – exortando, auxiliando, ensinando e investindo em relacionamento/ intimidade.
Quando idealizamos alguém, este alguém se torna objeto de adoração e quando este mostra ausências, torna-se motivo de frustração. Filhos, apesar de riquíssima benção de Deus, não são suficientes para ser nossa identidade, apenas Cristo o é. Filhos não preenchem vazio existencial, eles carecem de alguém seguro o bastante em Deus para que os ame. São seres humanos tanto quanto os pais, que precisam saber que podem confiar em seus superiores, como é indispensável sabermos que podemos confiar em Deus um a um de nossos fracassos porque Ele nos ama e irá nos ajudar. Apenas esse amor assegura relacionamento!
Um ambiente de intimidade e verdade é um ambiente de amor. Eu sei que posso abrir a Deus um a um dos meus segredos e fracassos, confessando o meu pecado, porque sei que Ele me perdoa e cobriu os meus pecados – isto é, Ele pagou um a um deles e me aceita[7]. Ao contrário do que muitos pensam, essa realidade não faz com que eu trate o pecado com negligência, mas faz com que eu me aproxime de Deus e seja eu mesma, aberta para ser tratada por Ele. Nesse relacionamento sou santificada! A graça me salva de mim mesma e me torna à adoração genuína quando quanto mais eu O conheço, mais eu quero dEle e menos eu quero de mim. Seu amor me atrai!
O arrependimento sempre tem origem no perdão, na graça, porque só confessa pecados em quebrantamento aquele que confia[8]. Engana-se aquele que acredita que a ausência de perdão faz do outro mais consciente de sua falta. Na verdade, a ausência de graça faz apenas com que o outro seja falso com você e nunca tenha relacionamento íntimo, porque não pode confiar suas ausências e confessar seus fracassos. A ausência de graça faz com que vivamos na superficialidade e na mentira, além de mostrar uma falha no caráter daquele que não sabe abrir mão de si mesmo – um sequer instante – em prol da relação. Para perdoar, primeiramente é necessário se arrepender, retrocedendo de sua própria razão, confiando suficientemente em Deus.
Um ambiente de graça é aquele onde a verdade é o fundamento. A verdade só pode ser quando a graça se faz presente em nossa realidade, afinal, só posso ser eu mesma (com todas as minhas negações, sem usar máscaras) quando a outra pessoa tem caráter suficiente. Deus é essa Pessoa e todo cristão (em quem Deus habita) deveria ser também!
O amor divino dispensa currículos. O amor investe nos piores, nas negações, pois cala a tentativa de independência e suficiência humana[9]. O amor nunca diverge da verdade, como também nunca foge de relacionamentos, antes anda em direção a eles. Fica notória, portanto, a necessidade determinado discernimento e essência divina que, para se mostrarem presentes, carecem da presença de Deus e relacionamento com Ele. Até porque, cristianismo nunca diz respeito a tentarmos imitar a Cristo e sermos bons desta maneira (isso é um fardo e cansativa tarefa jamais alcançada), mas sim a confiarmos suficientemente em Seu Caráter que preza por nós e, por isso, é em nós em tudo o que não podemos ser, inclusive na criação de filhos.
A INDISPENSABILIDADE DA UNIDADE
Filho, por si só, em sua existência, é alguém que anuncia a unidade. Todo e qualquer indivíduo tem origem na unidade, nada além dela pode realmente dar frutos dignos. A existência proclama a graça, o amor, a doação e a entrega que geram a unidade. Através da criação Deus nos convoca ao centro do Seu caráter, expresso em exatidão numa cruz. Filho é Deus “gritando” ao mundo a unidade, quero dizer, sem pai não há filho e sem mãe também não há prole. Logo, todo e qualquer indivíduo, até mesmo não humano, tem origem em uma relação entre dois seres de naturezas e papéis distintos que se unem e formam um só corpo capaz de glorificar a existência gerando frutos. Trata-se de mútua entrega, deleite e doação!
Filho é a proclamação da vida gerada pela unidade e amor do próprio Deus. A criação existe por essa unidade e ela anuncia o Criador Trino que, em Si, é três mas é um. Filho é ainda um dom que edifica o lar, sendo o homem eternamente grato a Deus e à sua esposa por seu herdeiro, tanto quanto a gratidão de uma mulher a Deus e ao seu esposo. Assim, o centro sai do ego, do que “eu faço, eu sou, eu posso”, mas parte para o soar do “você fez, você me deu, você é”. Uma mulher que passa a ser mãe passa a ver seu esposo com admiração compatível à paternidade e vice versa.
Precisamos saber então que, da mesma maneira como a criação parte de uma unidade, ela também precisa da mesma para ser mantida. Uma mãe não pode cumprir em plenitude o seu papel como tal sem o bom desempenho da sua cabeça, seu marido. O sacerdote igualmente não pode desenvolver uma boa paternidade sem a sabedoria da sua esposa, um é dependente do outro em amor.
Assim, filhos não apenas são gerados e nascem anunciando a unidade da criação e, obviamente do Criador dessa criação, mas carecem dessa unidade para seu bom desenvolvimento. Filhos precisam presenciar o amor de Deus em sua família, em seus
pais – o amor que reflete a paternidade divina e desenvolve neste o temor ao Deus Trino (Tri-Uno).
A este ponto, vale destaque no fato de o amor ter origem no caráter de Deus. Aliás, amor é uma Pessoa e essa Pessoa tem caráter. Assim, amor sem verdade, não é. Amor que fere a unidade anunciada pela própria criação ou pela cruz, é perversão. Não se pode chamar de amor algo que não dignifica a própria existência como a relação sem unidade entre homem com homem ou mulher com mulher.
INVESTINDO NA FAMÍLIA
A unidade está na intimidade. Ela, por sua vez, tem um segredo: o tempo. Confiança vem com tempo de conhecimento. Ninguém nasce íntimo de outro alguém, isto é, para desenvolver um laço de intimidade é necessário tempo de comunhão. A família precisa de tempo específico para investir nela mesmo. Deus é o primeiro a estimular a comunhão, pois é nela onde os pais aprendem e ensinam seus filhos, acolhem e disciplinam genuinamente.
Considero de valor divino a forma como a própria natureza constrói ou requer determinada intimidade entre mãe e filho. A amamentação é um exemplo: trata-se de um momento de extrema intimidade onde se dedica tempo exclusivo para o filho e, com o toque, com o cheiro, com o afago, com a simples presença, se cria laços. Ser e estar presente é o melhor presente que possamos dar aos nossos pequenos! A amamentação é um exemplo de um momento de comunhão íntima, de suprimento, acolhimento e paz que representa em exatidão a forma como Deus acolhe e supre seus filhos. Esta, talvez, seja uma das melhores maneiras de se descrever a intimidade em família, quando um pai se faz participante dessa unidade.
Investir na família significa investir nos relacionamentos. Isso começa no relacionamento pessoal do marido com Deus e no mesmo da esposa com Deus. Estes precisam ter sua identidade em Deus para que sejam nEle satisfeitos, assim como devem ter intimidade com Ele para que possam saber o que é ser marido e pai/ esposa e mãe. Ou seja, é necessário que marido e esposa invistam tempo em comunhão com Deus – em oração e conhecimento dEle por Sua Palavra.
Ainda assim, a unidade – apesar de carecer de tempo de intimidade- não se resume a um tempo. Relação é tempo integral.
Nosso relacionamento com Deus não está em alguns momentos de oração ou de leitura da Palavra, não existe separação entre momento sagrado e momento secular. Somos dEle e Ele é nosso Pai, em todo lugar, em todo tempo. Não oramos apenas em um ou dois momentos por dia, mas em todo e qualquer lugar, em qualquer momento. É uma vida unitária, assim como um matrimônio (meu marido não deixa de ser meu marido só porque não estou no momento conversando com ele, o fato de eu ser casada é levado em consideração em tudo o que faço, caso contrário, entro em adultério). Assim, Deus é em nós e nós somos nEle, nós o reconhecemos quer comamos quer bebamos, no andar, no vestir, no falar, no pensar, no trabalhar e especialmente no descansar. Somos um culto aberto ao Deus aberto que em uma cruz estende Seus braços para acolher como em um íntimo abraço filhos pela redenção. Ele é a reconciliação! Um Deus que estende seu braço eterno, Cristo, e faz dEle o Caminho de volta à genuína adoração, atraindo a Si mesmo o que a Ele sempre pertenceu. Um Deus que cobre (não encobre) pecados e gera relacionamento com Ele, pela confiança. Falamos de uma relação e esta, apesar de carecer de momentos próprios, não se resume a eles. Isso significa que como pais precisamos ter tempo em particular com Deus como também precisamos reconhecer em nossos caminhos a Palavra deste Deus![10]
Filhos são dons do Senhor para nós e, como mordomos, precisamos bem conhecer O que nos chama para tal afazer. Não podemos cuidar de filhos sem antes conhecer o Pai/ Criador deles e esta é uma responsabilidade que nos será cobrada. Depois deste fator primordial, mas não menos importante, é necessário se investir no matrimônio.
O matrimônio é peça fundamental na paternidade e maternidade porque, além de ser a estrutura do lar, interfere no relacionamento de pais e filhos. Essa interferência se dá de várias formas: quando o casal não vai bem, marido e mulher não conseguem exercer bem o seu papel particular com os filhos, além do que, maternidade e paternidade andam juntos dentro do lar. Uma mãe pode influenciar muito mais do que imagina na relação entre pai e filho e um pai tem muito mais importância do que imagina na relação entre mãe e filho – relação esta que tem início logo no ventre quando ambos se veem ´grávidos’. Estamos falando de um só corpo – homem e mulher que se tornam uma só carne – e quando essa unidade não é real, vemos danos em todas as esferas, inclusive nos demais relacionamentos familiares. Antes mesmo de se investir nos filhos é necessário investir no relacionamento conjugal, pois torna-se vão e contraditório investir no que era para ser apenas um reflexo. O matrimônio saudável conduz os filhos à adoração a Deus!
Investir no matrimônio significa investir no relacionamento do casal com Deus em primeiro lugar. Trata-se de um cordão de três dobras. Isso é feito quando a mulher reconhece seu papel como esposa em deleite a Deus e o marido reconhece seu papel como tal em temor a Deus. Um ambiente que manifesta conhecimento de Deus torna-se um culto. Família é um culto a Deus, é a manifestação do Seu caráter e presença. Quando investimos em um cônjuge estamos cultuando a Deus. Uma mulher sábia edifica o seu lar de todas as maneiras, inclusive ensinando aos filhos o respeito ao pai ao submeter-se a ele. Um sacerdote, por sua vez, conduz a família ao Altar sendo exemplo de serviço e amor. Instruir filhos não é um papel que possa ser executado no singular, é necessária a presença masculina e feminina, em
unidade.
Para se investir na unidade do casal, depois de investir na unidade pessoal para com Deus, é necessário que haja momentos juntos em oração e comunhão com o Pai Celestial. Todas as decisões de família devem ser tomadas em reciprocidade – em temor a Deus e em amor. Investir no relacionamento íntimo do casal é não só essencial como mandamento bíblico. É necessário que o casal mantenha intimidade tanto quanto antes dos filhos. Os filhos vêm e um dia se casam, tornando-se outra família, mas o casal permanece. Há casais morando de baixo do mesmo teto que estão divorciados há muito tempo, tentando assim justificar uma boa paternidade ou maternidade, porém isto é algo totalmente infrutífero. Casamento sem unidade deixa de ser e deixa marcas nos filhos tanto quanto casais que se divorciaram e moram em casas diferentes. Maridos devem investir em suas esposas pois assim estão investindo em si mesmos e em seus filhos, e vice-versa. Assim, antes de qualquer outra pessoa, ame sua esposa, ame seu marido – dedique-se, tire tempo a sós para intimidade (física, emocional e espiritual), sejam unanimes[11].
Tendo relacionamento religado com Deus através de Cristo, passamos a ter o ministério e o anseio de edificar relacionamentos[12] e nenhum outro pode ser comparável aos familiares. Tendo o matrimônio como imagem do amor de Deus, filhos estão sendo ensinados diretamente por Deus diariamente através dos pais. O culto familiar é uma ótima proposta para trazer os filhos à realidade do relacionamento com Deus que os pais desfrutam!
Nada pode ser tão glorioso como uma família aos pés da cruz. Pais que oram com seus filhos e os ensinam mais do que e a trilhar um caminho moralmente correto, mas a ter relacionamento com o Pai Celestial, ensinam o temor do Senhor. A família é a primeira igreja existente formada por Deus, assim, é devido ter cultos domésticos com os próprios filhos. O ensino referente ao Reino não é um trabalho que possa ser terceirizado, é papel exclusivo dos pais, não podendo ser simplesmente substituído por uma escola dominical ou qualquer coisa semelhante. Pais e mães presentes tornam o ambiente familiar realidade! Essa presença é tanto física, moral e emocional quanto espiritual.
Tão importante quanto o culto, é sermos testemunhas do evangelho em prática. Filhos aprendem muito mais com nossas atitudes do que com nossas palavras. Aqui destaca-se a importância da Vida em nós – Cristo em nós -, as reações são tão importantes quanto as nossas ações!
Evangelho é uma realidade que transparece em bons frutos. É de extremo valor e importância que pais sejam exemplo de serviço e submissão a Deus e isso é demonstrado, inclusive, quando um pai ou uma mãe é capaz de chegar ao filho e pedir perdão por um erro. É uma demonstração a cada correção e abraço, a cada “venha comigo”, “você está perdoado” ou “vamos orar? Precisamos de Deus! ”. Não fica para trás o “bom dia”, o beijo a cada partida e a cada volta ou o “eu te amo” – a expressão da condição familiar, a aceitação e auxílio incondicional. Uma ótima pregação sem reflexo na vida prática é um anúncio contrário ao evangelho.
Para se investir na intimidade com os filhos, algumas dicas podem ser muito ricas. É de muito valor que os pais invistam momentos a sós com os seus – seja com uma brincadeira em casa ou passeando no shopping. Não é preciso muito, basta envolver os filhos de forma deleitosa nos afazeres do dia a dia, por exemplo. Momentos com a família unida ficam marcados para sempre em nossa memória, independente de como e onde sejam; eles fazem parte da nossa formação. Assim também, considero muito importante que pais criem laços estreitos com filhas e mães com filhos, pois isso será refletido no futuro matrimônio destes.
Algo que fez muita falta em minha formação foram momentos a sós de intimidade com minha mãe. Como menina, precisava de uma intimidade feminina a qual não tive com a pessoa mais importante e, então, passei a confiar mais em estranhos para abrir minha intimidade. Isso não é bom! Mães, invistam tempo com suas garotas, com coisas de menina e assuntos de menina, para que haja um laço de intimidade e confiança, uma amizade que fará muita diferença quando sua filha crescer. De igual modo, pais, invistam tempo com brincadeiras e assuntos masculinos com seus meninos, desde bebês, para que eles saibam que podem se abrir e expor seus maiores fracassos pois confiam no pai e têm intimidade suficiente com este. Isso é refletir o caráter de Deus em família! Auxilie, exorte, corrija, mas esteja lá – aberto e com aceitação! É importante momentos a sós entre meninas/ meninos, como é importante momentos unitários em família. Todos os momentos em que você estiver investindo em relacionamentos, especialmente os familiares, estará prestando culto agradável a Deus!
Não permita que os afazeres do dia a dia, a rotina, o trabalho, as preocupações sufoquem o ambiente sagrado do seu lar, antes, confie no Senhor entregando a Ele cada um dos seus caminhos e a paz que excede o entendimento guardará o seu coração a fim de que você viva de forma saudável/ santa em todos os aspectos. Há maridos e pais que se preocupam tanto com o carro confortável que conquistará fazendo as horas extras no trabalho e se esquecem de que crianças gostam mesmo é de andar no ombro do pai. Se preocupam com a melhor creche, mas são os últimos a pegar o filho no colo e não têm tempo para ensinar pessoalmente a verdade, os valores que professoras não podem passar. Pai, seu filho pouco está se importando com a etiqueta da roupa que você está o vestindo, você é mais importante do que o dinheiro que tanto valoriza! Certifique se as prioridades estão ocupando seus devidos lugares.
Não há uma fórmula para o bom desempenho da maternidade. Apenas, e simplesmente, invista nos relacionamentos familiares, tendo a família alicerçada em Cristo. Lembre-se sempre de confiar ao Senhor suas dificuldades, sabendo que apenas nEle será possível vivenciar os Seus propósitos. Não é difícil viver família à parte de Deus, é impossível! Isso não irá requerer muitas tarefas, pelo contrário, irá tirar um grande fardo de seus ombros, mas irá requerer toda sua vida banhada e afogada na graça de Deus!
REFERÊNCIAS BÍBLICAS
[1] Colossenses 3:14.
[2] 2 Coríntios 12:9.
[3] Mateus 5:46-48.
[4] 1 João 4:16.
[5] 1 Coríntios 13:4-8.
[6] Miquéias 7:18.
[7] Salmos 32:1-2.
[8] Romanos 2:4.
[9] 1 Coríntios 1:26-31.
[10] 1 Coríntios 10:31; Provérbios 3:5-6.
[11] Efésios 5:22-33; 1 Coríntios 7:3-5.
[12] 2 Coríntios 5:18-19.
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