O Último Sermão de John Bunyan, pregado em julho de 1688
Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus.
João 1:13
Para que possamos entender o texto em questão, precisamos identificar o contexto através das palavras anteriores. Essas são as palavras ditas anteriormente:
Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome; Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus.
João 1:11-13
Nas palavras anteriores, identificamos duas coisas:
- A rejeição de alguns quando Cristo se ofereceu a eles.
- Outros o recebem e o fazem bem-vindo.
Aqueles que o rejeitam, Ele também rejeita; mas aqueles que o recebem, Ele lhes dá poder para serem feitos filhos de Deus. Agora, para que ninguém veja isto com vanglória como boa sorte, mérito ou dignidade própria, diz ele: Eles “não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus”. Os que não o receberam, nasceram apenas de carne e sangue; mas aqueles que o recebem, eles têm Deus para seu pai, eles recebem a doutrina de Cristo com um desejo veemente.
Eles não nasceram do sangue
Aqueles que creem nascem pela fé, não pelo sangue. A fé não é como uma herança que passa de pai para filho, mas é pessoal. Isto é, o nascimento para o Reino de Deus não é por geração, por descendência; ninguém nasce para o reino dos céus através da carne. Este nascimento não ocorre porque eu sou filho de um homem ou mulher de Deus. É isto o que significa “sangue” no texto, ele rejeita todos os privilégios carnais de que os homens se vangloriavam. Eles se gabavam de serem filhos de Abraão. Mas o texto diz: “não, não é de sangue”. Você deve nascer de Deus se for ao Reino dos céus, e não ter em seu histórico Abraão como pai.
Eles não nasceram da vontade da carne
O que devemos entender por “vontade da carne”?
Mesmo muitos daqueles homens frouxos e inclinados aos desejos carnais, que cumprem com seus desejos lascivos e com a vontade de serem vis, ainda muitos deles têm uma vontade de serem salvos também – uma vontade de “ir para o céu”. Mas essa simples vontade não carrega em si mesma o poder para tal. Essa vontade da carne não privilegiará um homem nas coisas do Reino de Deus. Os desejos naturais, segundo as coisas de outro mundo, não são um argumento para provar que um homem irá para o céu assim que morrer. Este homem Ele poderá ler as Escrituras um tempo ou outro, ou, pode ser que ele ore a Deus; mas isso não serve, não é o novo nascimento. O texto diz “não, não segundo o que ele quer”, porque até as suas vontades referentes a eternidade são perversas. Pode ser que muitos desejem a salvação dos seus filhos, mas não é isso que os salvará. Se a salvação fosse conforme a nossa vontade, eu gostaria que todos vocês fossem para o céu, e vocês todos iriam. Quantos existem no mundo que oram por seus filhos, choram por eles e estão prontos para morrer; e mesmo isso não muda seus destinos? A vontade de Deus é a regra de todos!
Eles nasceram segundo a vontade de Deus
Pessoas que confiam em Jesus Cristo, arrependendo-se de quem são e depositando nEle toda a sua crença para o recebimento eficaz da Sua Natureza, nascem para Ele. Ele diz que tais pessoas nascem para Ele; são nascidas de Deus, por Deus e para Deus.
Jesus respondeu, e disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.
João 3:3
A menos que tenhamos nascido diretamente de Deus, jamais poderemos ter qualquer acesso ao Seu Reino. Isso significa que não podemos ter o entendimento do evangelho, não podemos desejar sinceramente a Cristo para conhecê-Lo, não podemos desfrutar da Sua Natureza, não podemos ser santificados antes de sermos regenerados pelo próprio Deus. A própria fé é a conseqüência do novo nascimento, já que ninguém pode ver, entender ou crer se não for da vontade de Deus fazer assim.
Darei uma descrição clara disso sob uma ou duas semelhanças. Quando uma criança ainda está no ventre de sua mãe, ela não tem o conhecimento do que há do lado de fora. Ela não vê a realidade externa, não entende, pois está na masmorra escura do ventre de sua mãe. Assim também nós, antes de nascermos de Deus, estamos na escuridão do pecado, nada conhecemos, vemos ou entendemos de Deus, nada podemos discernir ou desejar de maneira sã. Apenas com o novo nascimento podemos enxergar a Verdade e, portanto, crer para salvação.
Vamos comparar um bebê antes do nascimento, ainda no ventre escuro de sua mãe, com o velho homem antes de nascer de novo, na escuridão do pecado. O nascimento é comparado a um homem que é levantado da sepultura; e nascer de novo é ressuscitar da sepultura do pecado: “Por isso diz: Desperta, tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te esclarecerá” (Ef 5:14). Ser ressuscitado da sepultura do pecado é ser gerado e nascer.
Em Apocalipse 1:5 há um exemplo famoso de Cristo: “E da parte de Jesus Cristo, que é a fiel testemunha, o primogênito dentre os mortos …”; Ele é o primeiro dentre os mortos, pois morreu a morte dos escolhidos de Deus e venceu essa morte para dá-los a vida eterna. Esta é morte que nossa regeneração alude – isto é, se você nascer de novo buscando aquelas coisas que estão acima, então há uma semelhança entre a ressurreição de Cristo e o novo nascimento. No novo nascimento há o resgate da pessoa que estava no domínio do império das trevas e ela é trazida para o Reino do Filho de Deus. Nele, tudo é feito de novo, uma nova visão, uma nova natureza, uma nova vida. Isto é nascer de novo; assim como comparamos o filho que é liberto do ventre de sua mãe. O filho é libertado do ventre de sua mãe com a ajuda da sua mãe, e o nascido de Deus é tomado pelo Espírito de Deus.
As consequências do novo nascimento
1. Clamor e Arrependimento
Sabe-se que uma criança chora assim que chega ao mundo; pois, se não houver barulho, dizem que está morta. Vocês que são nascidos de Deus e cristãos, se não houver movimento como sinal da vida de Deus, não há vida espiritual em vocês. Se você nasceu de Deus, você está chorando, você está dando sinais, está andando na mesma direção de Cristo, está dando frutos. Assim que Ele te levantou da masmorra escura do pecado, você não pode deixar de clamar a Deus. Você chora, clama, busca a Deus sinceramente.
Assim que Deus tocou o carcereiro, ele clama: “Homens e irmãos, o que devo fazer para ser salvo?”. O primeiro sinal do novo nascimento é o clamor sincero e o abandono do pecado. Oh! quantos se dizem mestres, mas nunca clamam? Tudo ao nosso redor diz para não orarmos, não clamarmos e não buscarmos a Deus, mas se você é um nascido de novo, você chora, busca, clama, ora. Não importa o tempo, o momento, a circunstancia, porque você o faz pela vontade de Deus, que o tirou dentre os mortos.
2. Busca sincera pela Verdade e Frutos de Arrependimento
Não é natural apenas que uma criança chore, mas que também almeje o alimento, o peito de sua mãe. Uma criança não pode viver sem o seio, o leite. Assim também, Pedro faz disso a verdadeira prova de um bebê recém-nascido na fé: ele deseja o leite sincero da Palavra, para que possa crescer assim. Se você nasceu de Deus, você deseja o seio de Deus, a Verdade. Você se alimenta dEle, pois tem fome e sede dEle, uma sincera necessidade de buscá-lo.
Um homem vive de uma maneira quando está no mundo e de outra maneira diferente quando é trazido a Jesus Cristo. “Eles devem sugar e ficar satisfeitos” (Is 66). Se você nasceu de novo, não há satisfação até que você coloque o leite da palavra de Deus em suas almas: “para que mameis, e vos farteis dos peitos das suas consolações; para que sugueis, e vos deleiteis com a abundância da sua glória” (v.11). Para o homem carnal, um prostíbulo pode ser mais doce e satisfatório; mas se você nasceu de novo, não poderá viver sem o leite da palavra de Deus. Para quem não nasceu de novo, os seios de Deus não fazem sentido, assim como os seios de uma mãe não têm valor para um cavalo, mas para uma criança é o conforto noite e dia, o socorro. Ó quão repugnante é o homem carnal, pois cuidar das coisas celestiais, diz ele, é apenas vaidade; mas para um filho de Deus, é o conforto.
3. Confiança e satisfação contínua na providência Divina
Uma criança recém-nascida sente a necessidade de um conforto para mantê-la aquecida. Ele deve ter algo para seu socorro; então Cristo tinha panos à sua disposição; portanto, aqueles que nasceram de novo devem ter alguma promessa de Cristo para mantê-los vivos. Aqueles que estão em estado carnal, se aquecem com outras coisas; mas os que nasceram de novo não podem viver sem a promessa de Cristo de mantê-los vivos, como Ele fez com o pobre bebê em Ezequiel 17: “Eu te cobri com ouro bordado”. E quando as mulheres estão grávidas, que coisas boas elas preparam para seus filhos!
Oh, mas que coisas boas Cristo preparou para envolver todo o que nasceu de novo! Oh, que embrulhos de ouro Cristo preparou para todos os que nasceram de novo! As mulheres vão vestir seus filhos, para que todos possam vê-los como são bons; assim o Pai também: “te vesti com roupas bordadas, e te calcei com pele de texugo, e te cingi com linho fino, e te cobri de seda. E te enfeitei com adornos, e te pus braceletes nas mãos e um colar ao redor do teu pescoço. E te pus um pendente na testa, e brincos nas orelhas, e uma coroa de glória na cabeça” (Ez 16:10-12). Ainda diz Ele no versículo 13, “e assim foste ornada de ouro e prata, e o teu vestido foi de linho fino, e de seda e de bordados; nutriste-te de flor de farinha, e mel e azeite; e foste formosa em extremo, e foste próspera, até chegares a realeza”. Isso não deve expor nada no mundo senão a justiça de Cristo e as graças do Espírito, sem as quais um bebê recém-nascido não pode viver, a menos que ele tenha a justiça de Cristo.
4. Prazer na vontade e presença de Deus
Uma criança quando está no colo da mãe, sente muito prazer em ter aquilo que será para seu conforto; assim é com os filhos de Deus, eles têm prazer em estar na presença de Deus, pois este é o seu único consolo. Eles são mantidos diretamente pelo Pai. Há uma semelhança nessas coisas que ninguém entende, exceto aqueles que nasceram de novo.
5. Santificação
Geralmente há alguma semelhança entre pai e filho; pode ser que a criança se pareça com seu pai; para aqueles que nascem de novo, eles têm uma nova semelhança, eles têm a imagem de Jesus Cristo (Gálatas 4), todo aquele que é nascido de Deus tem as características do céu sobre ele. Os homens amam aquelas crianças que são mais parecidas com elas; Deus também, seus filhos; por isso são chamados filhos de Deus. Mas outros não se parecem com Ele, por isso são chamados sodomitas. Cristo descreve os filhos do diabo por suas características; os filhos do diabo, suas obras eles farão; todas as obras de injustiça, são obras do diabo. Se você é terreno, você carregou a imagem do terreno; se celestial, você carregou a imagem do celestial.
6. Proximidade com a família espiritual e amadurecimento na fé
Quando um homem tem um filho, ele o treina ao seu gosto, ele aprende o costume da casa de seu pai; assim são aqueles que nascem de Deus; eles aprenderam o costume da verdadeira igreja de Deus; lá eles aprendem a chorar, Meu Pai e meu Deus; são criados na casa de Deus, aprendem o método e a forma da casa de Deus para regular suas vidas neste mundo.
7. Intimidade e dependência de Deus
Filhos, é natural que dependam do pai para o que querem. Se eles querem um par de sapatos, vão e dizem a ele; se eles querem pão, vão e dizem a ele; assim devem fazer os filhos de Deus. Você quer pão espiritual? vá contar a Deus. Você quer força da graça? peça isso a Deus. Você quer força contra as tentações de Satanás? vá e conte a Deus. Quando o diabo o tentar, corra para casa e conte ao seu Pai celestial; vá derramar suas queixas a Deus. Isso é natural para as crianças; se alguém os engana, eles vão contar ao pai; assim como aqueles que são nascidos de Deus, quando se deparam com tentações, vão contar a Deus.
Examine-se
O primeiro uso é esse, para fazer uma investigação rigorosa se você nasceu de Deus ou não. Examine pelas coisas que eu estabeleci antes de um filho da natureza e um filho da graça. Você é trazido da masmorra escura deste mundo para Cristo? Você aprendeu a clamar a Deus como o seu Pai e se arrependeu da sua velha vida? Todos os filhos de Deus são chorões. Você pode ficar quieto sem ter a barriga cheia do leite da palavra de Deus? Você pode ficar satisfeito sem ter paz com Deus? Ore para que você considere isso e seja sério consigo mesmo. Se você não tiver essas marcas, ficará aquém do reino de Deus; nunca terá entrada nele. Eles dirão: “Senhor, Senhor, abre-nos; e ele dirá: Eu não te conheço”. Nenhum filho de Deus, nenhuma herança celestial.
Às vezes, damos algo para aqueles que não são nossos filhos, mas não as nossas terras. Não vos bajuleis com uma porção entre os filhos de Deus, a menos que vivais como filhos. Quando vemos o filho de um rei brincar com um mendigo, isso é impróprio; portanto, se você é filho do rei, viva como o filho do rei. Se você ressuscitou com Cristo, coloque suas afeições nas coisas de cima, e não nas de baixo. Quando você se reunir, fale sobre o que seu Pai prometeu; todos devem amar a vontade de seu pai e ficar contentes e satisfeitos com os exercícios que encontrar no mundo. Se você é filho de Deus, viva junto com amor. Se o mundo se volta contra você, não importa; mas é triste se vocês viverem juntos. Se isso está entre vocês, é um sinal de má criação, não está de acordo com as regras que você tem na Palavra de Deus. Você vê uma alma que tem a imagem de Deus nele? Ame-o, ame-o; diga: Este homem e eu devemos ir para o céu um dia. Servir um ao outro, fazer o bem um ao outro; e se alguém estiver errado, ore a Deus para corrigi-lo e ame a irmandade.
Por fim, se vocês são filhos de Deus, aprendam a lição: “Cinjam os lombos de sua mente como filhos obedientes, não se moldando de acordo com a sua conversa anterior; mas sejam santos em todo tipo de conversa”. Considere que o Deus santo é seu pai, e deixe que isso o obrigue a viver como os filhos de Deus, para que você possa encarar seu Pai com conforto no último dia.
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